segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Diário de um divórcio # 6

Ontem foi dia de conhecer a casa nova do meu pai.
Desde de Janeiro, quando se separaram, o meu pai ficou hospedado no local onde trabalha, havia um género de suite disponível e ele foi ficando por lá enquanto orientava a vida dele - não trabalha em nenhum hotel, e espero que entendam não dizer onde é.
Aos bocadinhos foi levando coisas dele lá de casa: a aparelhagem, os cd's, a roupa, o relógio de sala, ferro de engomar e tábua, essas bullshits.
Aos bocadinhos fui-me habituando da saída dele, de já o ver todos os dias, de já não ter o carinho dele como tinha. Hoje em dia perguntam-me se gostava que ele voltasse e a resposta é rápida e negativa. Estou melhor assim, sem discussões, melhor com a minha mãe, mais leves, mais livres. Sinto falta dele, claro, mas as coisas estão melhores assim, não só para mim mas para todos.
A casa é pequena mas maneirinha, ainda tem um quarto por decorar e o dele já está pronto. Fez questão de dizer que é uma casa velha e "diferente". Eu percebi o significado de "diferente", ao contrário do meu irmão. É uma casa apagada, sem alma, sem identidade. Falta vida, falta cor, falta personalidade. Qualquer um podia viver ali e dizer "É a minha casa", não tem nada que se olhe à primeira vista e se diga que é a casa de x ou y.
Tenho pena, a minha casa é viva, é alegre, tem personalidade. Basta entrar em qualquer uma das divisões e qualquer um sabe o tipo de pessoa que passa lá mais tempo, em poucos segundos.
Só espero que ele consiga o mesmo. E que pelo caminho volte a ter os traços de personalidade que sempre lhe conheci, e hoje estão turvos.